quinta-feira, outubro 20, 2005

A familia Bellamy

Upstairs Downstairs, é o nome da série inglesa, entre nós conhecida como A família Bellamy. Nada do que temos agora é comparável, à qualidade desta série, que com outras fizeram a minha adolescência: A Jóia da Coroa, Reviver o Passado em Brideshead.

Peguei no outro dia num compilação de episódios da primeira série. Um espanto. A ideia era muito simples, mostrar a vida de uma família da gentry inglesa e dos seus criados no começo do séc. XX. É-lhes dado um “tempo de antena” igual – alias, eu acho que a vida downstairs, na cozinha, copa, quartos dos criados ocupa mais em cada episódio.

Cinematograficamente é elaborado – para os meios da altura - com cenas enormes, que hoje não vemos no cinema, onde a todo o momento os planos de acção são cortados, como que a menosprezarem a nossa capacidade de atenção: parece quase teatro.

Para além do retrato, que salta à primeira vista, de um mundo socialmente divido, vale a pena ir mais fundo, há bons e maus, independente da proveniência social. Há quem sonhe, há quem queira que nada mude. Começa-se a falar do aparecimento de novos fenómenos como o cinema, o carro, as ideias socialistas e o estado providencia. Fala-se já do preço dos jogadores (de críquete?), até do nosso Marquês de Souveral, que dizem ter sido amante da rainha Inglesa – na série é apelidado de feio e atarracado, “mais parecia um macaco”.
E há valores, rectidão, competência, lealdade, dever, altruísmo, amizade, generosidade, esperança, fé, “palavra dada”, sacrifício, postura, sentido de classe, honra e brio, sem lá. Há ali lições de vida subtis, implícitas em cada frase e acontecimento.

Hoje em dia já não há criados, a diferença social tende-se a esbater. Mas também todos estes valores que referi se perdem e são um tesouro raro de encontrar.A nossa televisão é o espelho do nosso mundo, futebol, novelas reality shows da pior espécie – onde um bando de macacos do zoológico se expõem 24 horas por dia em situações de vida irreais, só possível porque também eles são uma ficção - vazia - do nosso mundo.