segunda-feira, março 06, 2006

BrokeBack Mountains (BBM)
BBM é bom, é muito bom, chega a tocar o brilhante. E porquê, porque foi lindamente realizado por Ang Lee e melhor intrepretado por Heath Ledger e Jack Gyllenhaal. Tornaram real e verdadeiro o drama do mundo gay. Vale a pena, não porque conta uma história de amor entre dois gays, mas porque conta uma história de dois homens gay, notavelmente, ao ponto de nos tocar.
É verdadeira na dor, na angústia, na presistencia de uma inadaptação ao mundo; é verdadeira, no medo de ser olhado e descoberto. Não aveludemos o filme dizendo que ele é uma história de amor, é tudo menos isso, é dor, verdadeira tragédia, é a história triste de uma relação inquinada desde o início, e portanto com um fim igualmente triste. É verdadeiro nos conflitos interiores, nos impulsos sexuais reprimidos, na vivência de uma mentira que tudo mata e tudo destroi.
Ang Lee consegue-nos dar a imagem de dois homens, aparentemente verdadeiros machos, envolvidos numa relação Gay. Não é tanto o drama social da exclusão e diferença que ali acontece, é antes o drama de dois homens que são gays mas pretendem não o ser.
É admiravel o recurso, à paisagem, aos grandes planos de céu, de montanha, rios rebanhos, pastos, enfim à natureza para os levar a crer, a eles personagens e a nós, que aquele amor é natural. Aí na floresta eles encontram a sua sobrevivencia (amorosa) longe do mundo que os condena e coarta, sobrevivencia que é expressa até na caçada ao alce. Assim como os planos de interior – passados em casa, a sua vida de casados – nos levam a crer na infelicidade, no conflito com eles proprios com a destruição e a não vida. É verdadeiro no drama interior latente, anterior até à história do filme, de uma educação anti-gay e que resulta num total desapontamento com eles proprios despoltado porque eles se encontram, e até somos levados a crer que tal não aconteceria se aquele primeiro encontro não se tivesse dado. Este factor social/educacional é tão forte que percebemo-los desapetrechados, deles próprios e da sua condição.
É bom porque é tão forte, o filme, emocionalmente. É muito bom, porque tudo é ao mesmo tempo bastante concreto e no entanto indefinido e isto passa pelas construção das personagens e do seu conteudo psicologico, não é claro que eles se apaixonam porque são gays ou se eles se tornam gays porque se apaixonam. E nisto reside em parte a beleza do filme. A novidade do filme, o que dá sentido é ser uma história homosexual, longe do estereótipo que temos do mundo gay, do seu look e modo de vida.
BBM é uma história de infidelidade, as personagens são infieis à sua propria condição homosexual, infeis às mulheres – familia – infieis até um ao outro, em que o Jack procura satisfazer a ausencia (fisica) do Ennis recorrendo à prostituição no méxico. É uma história da solidão e do vazio que se vai instalando, quer pelo espaçamento dos encontros entre eles, quer pela morte do Jack (espacado pela sua diferença sexual), já antes prevista pela cena em que o pai de Ennis – num flashback – mostra aos filhos um homem torturado por ser gay. Vazio este que culmina com a total não-vida de Ennis.
É uma história de não-aceitação e de tormento por precisamente ser aquilo que é, homosexual.
É dilacerante ver o Ennis – o pobre Ennis que nunca soube bem o que era aquilo que lhe estava a acontecer, que nunca soube lidar com os seus sentimentos e impulsos, sempre a fugir à possibilidade de uma vida a dois que o Jack lhe propunha, sempre a fugir à possibilidade de uma felicidade, a odiar-se e a desgostar-se profundamente – segurar o casaco do Jack que “abraça” dentro si a sua camisa, aquela que ele julgava ter perdido no fim do verão de Brook Back Moutains, suja de sangue sinal de uma pureza perdida.
O filme passado no início da decada de 70, é actual porque o drama, ainda é o mesmo. E não falo do drama dos gays assumidos que começam a viver uma vida mais ou menos normal porque são mais ou menos aceites. Falo do drama dos que pretedem não o ser para o mundo, do facto de continuarem a haver homens casados homosexuais, com vidas duplas, que recorrem à prostituição (Parque Eduardo VII).
O que é verdadeiro, muito bem representado no filme, e que choca não é a homosexualidade, mas justamente a destruição que vem da vivencia de uma mentira de dois homens que sendo homosexuais pretendem não ser gays. É inevitavelmente duro.
Fica-se a pensar e um filme que nos faz pensar é sempre um bom filme.

3 Comments:

Blogger p.canha said...

desculpem-me... esqueci-me disto, É que é o filme (o drama) está tão bem dirigido e interpretado, que os diálogos poderiam não estar lá e tudo era igualmente preceptivel.

8:46 da manhã  
Blogger Maffa said...

E eu que tinha gostado do filme, mas sem saber bem porquê... envolveu-me e achei bonito.
Mas agora com esta explicação analisei tudo outra vez e ainda gosto mais do que vi! Que bem P.!!!

11:07 da tarde  
Blogger DM em Caracas said...

Oh Paulinho, entretanto vi o filme e gostei... Mas não será um bocadinho parado? Lá para o meio já estava quase a adormecer!
E como o meu DVD não tinha legendas e o que o louro dizia era quase imperceptível com aquele cerrado sotaque sulista, não pude evitar uns cerrares de olhos mais profundos.

9:41 da manhã  

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