terça-feira, outubro 31, 2006

cobardolas mas sensato

Já decidi que nunca irei escrever livros. Acho que estou demasiado agarrado a vida para o fazer. A escrita é como uma especie de catarse resolve-nos a vida e eu temo por isso. É-me muito preciosa, tal como Deus, gosto de os ver. Ou às vezes, cansado, de os olhar e sentir ao lado, por perto. Embora não resolvida, tenho-a arrumada – execessivamente arrumada. É, talvez, o luxo de uma certa solidão. E se estas cinco linhas custaram a escrever, o que será um livro. Prefiro apropriar-me dos livros, das vidas e das histórias dos outros.

E vejam senão, em frases como estas vai-se um bocado de vida:
“Estou morta/estendida como um lençol de linho ainda por dobrar/ arrumada no grande armário onde se guardam as toalhas de renda dos grandes jantares/ morri/ para que venhas buscar-me viva” in, Antes que a noite venha, Eduarda Dionisio;

ou “O senhor doutor dobrou-me para a frente, encostou-me a uma viga em que dormiam rolas e as placas do telhado estremeceram, procurou-me no vestido achou-me perdeu-me tentou achar-me de novo, e eu esqueci-me dele e pensei nas laranjas a brilhar na paz de agosto, ardendo devagarinho como lamparinas dos santos e não sentia medo, sentia-me bem, sentia-me eterna, sentia-me feliz dado que o tempo parecia parado para sempre..." In, O manual dos Inquisidores, António Lobo Antunes.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Oração II

(agora sim, parece que acaba... desculpem lá os espíritos mais laicos)

Eu tenho uma cruz no meu bolso
Simplesmente para me lembrar
Do facto que sou cristão
Onde quer que eu esteja.

Esta pequena cruz não é mágica,
Também não é um amuleto da sorte.
Não está aqui para me proteger
Das agressões, do mal.

Não é uma identificação
Para todo o mundo ver.
É, simplesmente, um acordo
Entre mim e o meu salvador

Quando ponho a mão ao bolso
Para tirar uma moeda ou as chaves
A cruz está lá para me lembrar
O preço que Ele pagou por mim.

Lembra-me também de dar graças
Pelas bençãos que recebo a cada dia
De me empenhar em melhor O servir
Em tudo o que faço e digo.

A cruz está lá para me recordar
A Paz e o Conforto que partilho
Com todos os que conhecem o meu Senhor
E a Ele se entregam.

Assim, eu tenho uma cruz no meu bolso
Para me lembrar todos os dias
Que Jesus Cristo é o Senhor da minha vida
Enquanto eu assim o permitir.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Oração

(acaba aqui a triologia filosófica, com que vos ando a maçar, mas que continuará a ocupar-me o espirito)

“Aqui estou, Senhor Jesus, à beira do caminho, sem caminho.
Os meus passos procuram as Tuas pegadas para pôr os meus pés.
O bem e o mal cruzam-se no meu coração,
Que sem descanso procura, pede e clama (calma).

Quero seguir o caminho do homem novo.
Quero ser um homem de justiça.
Quero ser um homem de bem.
Porque todo o meu ser tende para isso,
Mas o meu comodismo também me puxa,
Só que para o lado contrário.

Não me deixes caminhar ao acaso,
Não quero ser como palha que o vento leva.
Quero ser eu próprio (a responder)
Com as minhas lutas e as minhas crises,
Mas cheio de ideias e de esperança,
Aberto à Vida Eterna, onde Tu vives, Senhor.

Quero aprender de ti (Exemplaridade de vida).
E dos que trago no coração,
E de todos os cruzam a sua vida comigo
A ser (verdadeiramente) livre como o vento,
No Teu espirito que guia e salva.”

(obviamente, adaptado de uma oração que me chegou às mãos)

quarta-feira, outubro 11, 2006

Responder com a Vida


É o lema das Comunidades A.C.I. para este ano lectivo de 2006-7.
Isto vem no seguimento do “Volver” de ontem.
A frase em si é tamanha. Porque tudo cabe nela e porque tem um peso brutal.
É sobre isto que vou deitar o meu olhar este ano.
A nossa vida é constituída entre outras coisas – a influencia dos outros e do seus exemplos – por toda a nossa dimensão pessoal e pela capacidade que temos de lhe responder (à vida). Verdadeiramente vive, aquele que responde aos impulsos de vida que tem dentro de si.
A nossa individualidade é feita de todas as carcaterísticas, sentimentos, defeitos, qualidades que temos. Isto faz de nós, alguém diferente de todos os outros, ou até alguém parecido ou semelhante a alguns desses outros.
Verdadeiramente, aquilo que nos distingue, é a resposta que damos à vida. E daí o ser tão importante responder com a vida – com a nossa vida.
Não serei “julgado” por aquilo que sou, mas pelas respostas que dei com a minha vida àquilo que sou.
Para os amigos “católicos”: Um cristão não é aquele que é, entenda-se por estar na posse dos sacramentos, mas aquele que sacramenta a sua vida, respondendo-lhe no dia-a-dia cristãmente.
Para ou outros: Eu valho, não por ser corajoso (característica própria), mas por cada uma das respostas de coragem que dei a um impulso de cobardia. Ou, não serei “julgado” por ser um cobardolas, mas pelas respostas de coragem que consegui dar.
Volver.
A exemplaridade está então nesta capacidade de responder à vida.
Desculpem se estou chato.
Mas a escrever sobre alguma coisa, que seja, sobre o que me ocupa o espirito.

terça-feira, outubro 10, 2006

Volver


Não é um texto sobre o último almodovar.
É um apelo interno.
Voltar à exemplaridade de vida.
Quer o desejemos ou não, a nossa vida e os actos levados a cabo, consciente ou inconscientemente, por nós, têm um impacto na vida dos outros. A velha imagem da pedra que caí no charco e provoca uma série de ondas que chegam às margens. Daí a enorme responsabilidade que temos. Os nossos pais foram educados para serem um exemplo. E foram-no, até alguns foram um mau exemplo e portanto não os seguimos.
O que acontece hoje é que somos educados – mais pela sociedade menos pelos que nos estão próximos - a sermos nós próprios. Desligados do mundo e dos outros e do papel – repito - que queiramos quer não, podemos ter na sociedade.
Os livros da Jane Austen – que confesso adoro - estão cheios de personagens bons e maus. No nosso mundo deixou de haver maus, há opções, há caminhos, há sei lá o quê, que o mergulho que demos no charco da tolerância, nos impede de arrumar em categorias.
Se ontem se vivia entre o desejo de se ser dono de uma vida exemplar e de não o ser. Pairava sobre o homem o estigma da “Condenação” (moral, religiosa, social, familiar etc.). Hoje penso que o homem já cresceu e já se humanizou em relação aos demais, hoje, já não condenamos, pelo contrário reconhecemos fragilidades, inclusive valorizamos a fragilidade do outro como um passo para a fortaleza. Acho que humanamente estamos mais apetrechados. E por isto acho que agora sim devíamos voltar a tentar ser um exemplo. Sob o risco de encerrarmos virtudes que podem ser um exemplo para os outros, sob o risco de a fragilidade reconhecida não ser um motor de arranque. Enfim sob a pena de deixarmos de ter “haver” com outros.