sexta-feira, outubro 28, 2005

Amanhã

Amanhã vou acordar para um fim de semana inesquecível. Inesquecível, porque vai ser só meu e para mim – espero – e mais ninguém não vai poder esquece-lo.
Amanhã vou acordar e beber um copo de leite, 2 bolachas e um cigarro, vou voltar para a cama e vou ler o meu “Leopardo”, enquanto oiço o cair da chuva lá fora, ou então o sol vai entrar pelas janelas abertas e tornar ainda, mais azul o meu quarto.
Vou levantar-me tarde. Vou para a cozinha e preparar o meu pequeno-almoço: um iogurte líquido em copo de vidro, uma chávena de chá cheia de café, um copo de sumo de morango com maçã, 2 torradas com muita manteiga, paté, queijo e fiambre e uma fatia de bolo.
Vou fazer marmelada – à seria. Vou vir para a sala e com outra chávena de café e cigarros na mão, vou ler o catrapazio de revistas e Jornais que hoje comprei – National Geographic; a história; o le monde diplomatic; o DN e o seu DNA; a Cooking; a Martha Stewart Living; O publico de sexta. Uhf!!! Vou por música baixinho e fumar cigarros enquanto leio. Lá para o meio da tarde vou almoçar peixe no forno e arroz - que já está feito! – vou fazer uma Apple Crumble.
Vou voltar a sala fazer o meu tapete de arraiolos, e os CD’S do Out Of África, e do Paciente Inglês, pensar na vida. De vez em quando o meu olhar vai pousar num retrato lindo do Hassam, um retrato feito pela Karen Blixen de um criado seu nigeriano. Vou sonhar com a Ana como sempre faço.
Ao fim da tarde vou pôr alguma roupa em ordem – não é tudo rosas - enquanto oiço alguma música mais animada, e enquanto passo a ferro vou voltar a sonhar a minha vida com a Ana.
Vou voltar para a Sala e ver um DVD de Tsarskcoye Tselo – a morada preferida dos últimos Ksars da Rússia e da sua família. Vou fazer chá e comer a minha Apple Crumble com natas.
Vou por fim – é uma vergonha – tomar banho e fazer a barba. Comer uma sopa que já está feita, e um iogurte.
Vou por mais música, vou para a sala com os meus carvões e o meu papel bom, fazer esboços, desenhos o que sair, com uma caneca de chá quente ao lado.
Irei de novo para a cama e continuarei o Leopardo, na companhia de 4 bolachas de manteiga, imensamente satisfeito.
Domingo, logo se vê, senão, repito a dose.

domingo, outubro 23, 2005

O Construtor de Catedrais

Hoje na missa, o padre contou uma história. Fiquei a pensar nela e na sua mensagem e como ela pode ser transposta para outros horizontes da nossa vida. E reza mais ou menos assim: “dois homens estão a construir uma catedral, alguém lhes pergunta o que estão a fazer. Um responde estou a partir pedra, outro responde estou a construir uma catedral”.
A mesma pergunta posta nas nossas vidas marca toda a diferença. No nosso trabalho, nas nossas relações de amizade, no namoro, casamento, paternidade etc.
Cada vez mais vivemos por objectivos pequenos, curtos no tempo, que nos pedem uma actuação. Metas pequenas, que centram o olhar, num perímetro muito curto, o que nos leva a baixar, necessariamente, o olhar e perder com isso a linha do horizonte.
Possivelmente até, muito possivelmente mesmo, ambos não assistiram à conclusão da catedral. Mas sempre que o segundo homem batia com o escopo na pedra, ele sabia claramente o que estava a fazer e isso estava presente no seu actuar, na força empregue, no cansaço causado pelo trabalho, nos momentos de descanso. Seguramente até, chegou muitas vezes, a sonhar com a catedral.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Maps for losting lovers

Maps for losting lovers

Há dias, alguns já, recebi um e-mail, da Ana Müller, era um Fw para vários amigos, “elogio do amor puro”, li o texto assim a correr, mas muito contente pelo que estava a ler porque vinha ao encontro de muito do que andava a pensar e porque julgava ser dela, até que encontrei as duas últimas palavras: Miguel Esteves Cardoso. Hoje outra amiga, a Nini – há sempre mulheres metidas na história (e isto do amor é melhor que seja com elas) – pedia-me para lhe ajudar a abrir um anexo, e qual não é o meu espanto quando vejo: Elogio do amor puro – Miguel Esteves Cardoso. O e-mail circula por aí, é espantoso!
O mesmo Miguel que há uns anos publicou uma separata inteira do independente com o mais belo texto de amor que li, páginas e páginas de um manifesto do amor (declaração do mais puro amor) acompanhadas de fotografias lindíssimas do seu casamento. Já agora há outra do António Mega Ferreira que é um espanto – “tudo o que eu fizer, há-de ser por ti”. Mas centremo-nos no essencial, o essencial não é o texto mais ou menos verdadeiro, mais ou menos amoroso no sentido literal da palavra. O essencial é que “ele” se anda a perder. O amor. Vamos andando de braço dado com ele, tomamos café, passeamos, mas quando chega a nossa hora dizemos até amanha e cada um sonha sozinho. É pena.
Urge encontrar o amor, cantou, Daniel Filipe em A invenção do amor (1972), urge encontrá-lo mas agora por outros motivos – foi escrito antes do 25 de Abril - não para capturá-lo aprisioná-lo, mas sim para o proteger, alimentá-lo, criá-lo ou para o recriar,
Quem o tem conserve-o, quem se esqueceu dele, vá à sua procura, quem nunca o teve saia para a rua ao seu encontro. Quem tiver mapas para amores perdidos, ceda fotocopias, faça-as circular, deixe-os nos para-brisas dos carros. Urge, de facto encontrar o amor.
Como dizia uma amiga minha citando, julgo eu, uma tenista que não sei escrever o nome, a diferença entre envolvimento e comprometimento é esta: pensem em Ovos com Bacon, a galinha está envolvida o porco está comprometido.
Julgo ser esta, a resposta, ninguém está disposto a sofrer, dar de si, a sangrar se for preciso.
Tenho pena de não ter feito corrente deste texto do MEC porque “urge encontrar o amor”, pedi só a minha namorada, amiga da Ana que o lê-se. Desculpa Miguel. Obrigado Ana (Müller).

quinta-feira, outubro 20, 2005

A familia Bellamy

Upstairs Downstairs, é o nome da série inglesa, entre nós conhecida como A família Bellamy. Nada do que temos agora é comparável, à qualidade desta série, que com outras fizeram a minha adolescência: A Jóia da Coroa, Reviver o Passado em Brideshead.

Peguei no outro dia num compilação de episódios da primeira série. Um espanto. A ideia era muito simples, mostrar a vida de uma família da gentry inglesa e dos seus criados no começo do séc. XX. É-lhes dado um “tempo de antena” igual – alias, eu acho que a vida downstairs, na cozinha, copa, quartos dos criados ocupa mais em cada episódio.

Cinematograficamente é elaborado – para os meios da altura - com cenas enormes, que hoje não vemos no cinema, onde a todo o momento os planos de acção são cortados, como que a menosprezarem a nossa capacidade de atenção: parece quase teatro.

Para além do retrato, que salta à primeira vista, de um mundo socialmente divido, vale a pena ir mais fundo, há bons e maus, independente da proveniência social. Há quem sonhe, há quem queira que nada mude. Começa-se a falar do aparecimento de novos fenómenos como o cinema, o carro, as ideias socialistas e o estado providencia. Fala-se já do preço dos jogadores (de críquete?), até do nosso Marquês de Souveral, que dizem ter sido amante da rainha Inglesa – na série é apelidado de feio e atarracado, “mais parecia um macaco”.
E há valores, rectidão, competência, lealdade, dever, altruísmo, amizade, generosidade, esperança, fé, “palavra dada”, sacrifício, postura, sentido de classe, honra e brio, sem lá. Há ali lições de vida subtis, implícitas em cada frase e acontecimento.

Hoje em dia já não há criados, a diferença social tende-se a esbater. Mas também todos estes valores que referi se perdem e são um tesouro raro de encontrar.A nossa televisão é o espelho do nosso mundo, futebol, novelas reality shows da pior espécie – onde um bando de macacos do zoológico se expõem 24 horas por dia em situações de vida irreais, só possível porque também eles são uma ficção - vazia - do nosso mundo.